
Egressa do Câmpus Goiás lança livro no 24º FICA
O lançamento será no dia 16 de junho de 2023 na Livraria Leodegária, Mercado Municipal de Goiás
Nayara Gonçalves ou Nay Gonçalves, como é conhecida pelo seu nome artístico, é egressa do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Goiás - Câmpus Goiás, mas sua primeira graduação aconteceu na mesma instituição no Câmpus Goiânia em Artes Visuais com habilitação em Design de Interiores.
Nayara conta que sua mãe dizia que em sua infância ela era "uma menina pirracenta e teimosa" e por isso que ela entente que se tornou "uma mulher intensa e tempestuosa". Talvez estes sejam traços que a acompanham durante seus processos.
Durante a graduação em arquitetura e urbanismo, a artista participou de variados projetos na instituição, especialmente no desenvolvimento de pesquisas que abordavam temas como: a representação artística como metodologia de investigação, a casa sertaneja goiana, paisagem simbólica e habitação de interesse social com foco em metodologia participativa.
O processo final desta jornada contou com um trabalho em que Nayara se propôs a ler as representações de cidade a partir da perspectiva do sujeito comum. Atualmente, é mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Geografia – PPGEO, da Universidade Estadual de Goiás - Câmpus Cora Coralina.
Profissionalmente atua como ilustradora, aquarelista, tatuadora e auxiliar de acervo e arquivo nos museus Ibram em Goiás (Museu das Bandeiras, Museu de Arte Sacra da Boa Morte e Museu Casa da Princesa).
Imersa no mundo das artes, Nayara também tem se dedicado a ilustração e produção de livros. Foram nessas buscas e expressões que surgiu o Guia Afetivo do [não] Centro Histórico da Cidade de Goiás – GO e, para saber um pouco mais, a convidamos para um pequeno bate-papo.
[ASCOM/CG] Qual a contribuição da sua formação em uma instituição de ensino superior pública como a Universidade Federal de Goiás, sobretudo em um câmpus interiorano como o Câmpus Goiás?
Primeiramente, eu nunca me imaginei acessando um espaço de formação superior que não fosse através de uma universidade pública, nunca possuí qualquer recurso financeiro para isso. As duas graduações que realizei foram através de universidades públicas, com perfis de formação bem diferentes, e só consegui perceber isso frequentando esses dois espaços. Apesar de todas as dificuldades geradas pela escassez de emprego e renda, muito característica em pequenas cidades, a graduação realizada no câmpus Goiás permitiu um envolvimento maior com a cidade e as pessoas, o que facilitou bastante a imersão necessária para o entendimento das relações de afeto urbanas que se mesclam com as dinâmicas de desenvolvimento das cidades, o que eu não consegui vivenciar na formação em Goiânia, por esse e por outros motivos. E ainda existem todas as particularidades da cidade que recebe o câmpus Goiás, os diversos contextos existentes na cidade como o contexto histórico, o universitário, os assentamentos rurais, os distritos e como tudo isso determina os agentes de crescimento da cidade que ditam todo o caminhar do desenho urbano, suas fragilidades e potencialidades. E o fato de ser um câmpus presente em uma pequena cidade, é possível acompanhar todos esses processos acontecendo de perto.
[ASCOM/CG] Quais foram as suas inspirações para produção do livro?
O livro é um produto fruto do trabalho de conclusão de curso desenvolvido para obtenção do título de bacharela em arquitetura e urbanismo, então, basicamente, a inspiração foi a percepção sobre a Cidade de Goiás que amadureci durante os anos de formação. Perceber as ambiguidades, polaridades e dualidades existentes na Cidade de Goiás, os espaços delimitados pela linha “invisível” do perímetro de tombamento e o quanto isso determina processos diferentes de gestão, de representação e de escuta. Durante o processo de construção da pesquisa e do trabalho final em si, fui muito bem acolhida nos espaços em que me propus estar, e tive um retorno efetivo dos sujeitos com quem trabalhei. Assim, senti a necessidade de gerar um produto que fosse uma devolutiva de agradecimento, uma vez que os trabalhos acadêmicos, principalmente de final de graduação, tendem a ficar nas prateleiras ou nos repositórios da universidade, sem uma utilidade imediata para a comunidade. Busquei coragem para seguir na decisão de produzir um material impresso em trabalhos como o “Entre a rua e o imaginário” de Elisa Azevedo Ribeiro, o “Strist Vistas” de Camila Mendonça Garcia e o “Retratos do benzer” organizado pela antropóloga Lucinete Aparecida de Morais, que, inclusive, compuseram o repertório bibliográfico e de casos-referência do meu trabalho de conclusão de curso.
[ASCOM/CG] Como que foi o processo de produção do seu Trabalho de Conclusão de Curso em Arquitetura e Urbanismo?
Acho que a maior particularidade que meu trabalho de conclusão viveu, assim como todos os outros desenvolvidos no mesmo período, foi o fato de estarmos imersos em uma realidade pandêmica assustadora, onde todos os dias, diversas famílias, entravam em processos de luto. A Cidade de Goiás sofreu muitas e significativas perdas humanas. Meu trabalho se propunha ler a cidade através da perspectiva de sujeitos comuns, eu precisava estar em contato com eles, e como esse contato poderia acontecer resultou em diversas alterações no método. Isso acarretou muitos atrasos. Os atrasos acarretaram em muitas críticas e comentários desmotivadores. Para minha sorte, os únicos comentários e críticas que eu aprendi a considerar foram os do meu orientador e das bancas, que contribuíram muito para que eu alcançasse o resultado que alcancei e conseguisse dar continuidade mesmo com a conclusão do curso. Uma das alterações no método acabou reduzindo a quantidade de coletivos com os quais a pesquisa trabalharia e direcionando para a investigação através do contato com os estudantes de um colégio de ensino integral da cidade, e acredito que esse fato renovou muito a minha própria perspectiva sobre como enxergamos as cidades e como pensamos o planejamento urbano.
[ASCOM/CG] Como foi pra você, uma artista independente, ser contemplada em dois editais de fomento?
Sempre que acontece uma aprovação em um edital para artistas é como uma validação de que sou mesmo uma artista. Não deveria funcionar assim, mas, infelizmente, comigo acontece. Ao menos, para mim, não é somente sobre o recurso financeiro, mas o significado de ser reconhecida entre os meus pares. Com o recurso financeiro os projetos assumem novas propostas, recebem uma continuidade ou a possibilidade de serem, de fato, materializados, seja em forma de exposição, publicação, enfim, uma ação artística e cultural. Com o primeiro edital de chamamento público da prefeitura da Cidade de Goiás, com recursos provindos da Lei Federal de Emergência Cultural Aldir Blanc nº14.017/2020, consegui minha primeira exposição virtual. Com o segundo edital para a seleção de projetos de artes visuais da Secult nº03/2021, com recursos também da Lei Aldir Blanc enviei três peças para a Secult Goiás. Com o terceiro edital municipal, com Fundo Municipal de Cultura - 2022, foi possível o lançamento virtual, em forma de publicação cultural, do guia afetivo do [não] centro histórico da Cidade de Goiás – GO, que iniciou o processo de criação do livro físico. E agora, com a chamada pública n º04/2023 para seleção de artistas locais da Cidade de Goiás para apresentações artísticas e culturais do FICA 2023, materializamos a experiência da edição experimental por demanda.
[ASCOM/CG] Como vai funcionar a pré-venda dos exemplares físicos para o 24º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental?
Tudo ainda está acontecendo de forma muito acelerada, ainda não parece real que terei a oportunidade de lançar meu primeiro livro em um festival como o FICA. E, como todos os resultados e prazos foram divulgados sem muito espaço para que uma grande produção acontecesse, essa primeira impressão dos livros acontecerá de forma muito mais simbólica do que comercial. Então, não consigo garantir exatamente como a pré-venda acontecerá. O que consigo garantir é que se trata de uma edição experimental com tiragem limitada. Foram confeccionados, de forma artesanal, apenas 25 unidades que serão vendidos em kits. Ainda estou analisando a possibilidade de alguns itens que já haviam sido confeccionados para o lançamento também ficarem disponíveis para venda. Tudo dependerá de como o material, enquanto produto, será recebido pelo público.
[ASCOM/CG] Quais as suas expectativas para o futuro do projeto? Ele se encerra aqui ou você pretende expandir as áreas de investigação do Guia Afetivo do [não] Centro Histórico da Cidade de Goiás – GO?
Como eu disse no evento de lançamento da versão virtual, espero que esse trabalho possa continuar caminhando, se não pelas minhas “pernas”, minhas iniciativas, que seja pelas “pernas” de outros. Para essa edição, não consegui trazer todas as áreas urbanas da Cidade de Goiás que se encontram fora do perímetro de tombamento. Para conseguir cumprir os prazos do edital, nem mesmo todos os lugares que eu havia me planejado para representar nessa edição foram representados. O tempo do desenho é um tempo que exige uma observação, uma imersão e uma dedicação um pouco mais extensos. Não sei para onde os ventos que movem a arte me levarão, mas enquanto eu estiver por aqui, pela Cidade de Goiás, meu compromisso é com os afetos que eu recebo dessa cidade.
Então, se você ficou curiosa(o) sobre o livro Guia Afetivo do [não] Centro Histórico da Cidade de Goiás – GO, não perca o lançamento que acontecerá nesta sexta-feira, 16 de junho, às 16h na Livraria Leodegária, localizada no Mercado Municipalm da cidade de Goiás.
Fonte: ASCOM | Câmpus Goiás
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