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Professor Hélio Simplício recebe prêmio de melhor filme no FICA 2024

Por Amanda Peregrine. En 20/06/24 15:00 . Actualizado en 28/06/24 13:36 .

Idealizador do filme Bdeeryvenceu o prêmio de Melhor Filme na Mostra Becos da Minha Terra no FICA 2024.

Em 2024 o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) completou 25 anos. A cada ano, nas telas do Cine Teatro São Joaquim, é exibido um recorte do que há de mais novo, relevante e inquietante em termos de filmes que tratam da relação entre ser humano e natureza. A UFG faz parte dessa história de diversas maneiras, e hoje, trouxemos uma delas através da entrevista com o professor Hélio Simplicio, professor do curso de Licenciatura em Educação do Campo, e idealizador do filme Bdeery/Knowledge, que venceu o prêmio de Melhor Filme na Mostra Becos da Minha Terra no FICA. Confira a entrevista na íntegra:

 

Boa tarde, professor! Conta um pouco pra gente sobre você, sobre o filme, como ele foi idealizado e o que te levou a escolher essa temática?

Boa tarde! Eu me chamo Hélio Simplicio. Eu sou professor na Universidade Federal de Goiás, no Câmpus Goiás, do curso de Licenciatura em Educação no Campo. Eu trabalho já há algum tempo com as comunidades indígenas. E esse filme que eu realizei é um filme que começou a ser feito em 2019 ainda, porque nele eu acompanho a trajetória de uma estudante indígena, que foi nossa aluna aqui na Licenciatura em Educação do Campo, a Loiwa Karaja, de Aruanã. Eu acompanho a trajetória dela enquanto estudante da Licenciatura em Educação do Campo. Isso é, as dificuldades em se manter na cidade, em voltar. O nosso curso é na pedagogia da alternância entre o tempo Comunidade e tempo Universidade. Então eu conto essa trajetória. Eu narro essa trajetória da Loiwa aqui na Universidade Federal de Goiás, Câmpus Goiás. E o filme termina com a defesa do TCC dela. Então é isso que eu tento colocar, né. É isso que eu tento narrar nesse filme. Que bom que nós fomos premiados com o melhor filme na Mostra Becos da Minha Terra. Eu estou muito feliz, ela está muito feliz, eu acho que isso é o reconhecimento de um trabalho que vem sendo realizado com esses povos. Esse ano eu completo 20 anos de trabalho com os povos indígenas e ganhar esse prêmio para mim foi muito significativo.


O filme estará disponível em algum lugar?
Ainda não está disponível, mas eu acredito que ele vai sair em algumas plataformas. Quero mandar ele para alguns festivais também. Agora eu me empolguei, já que ele ganhou!

Será exibido na UFG? Foi exibido no Cine Cajazeira?
Não, ainda não passou. Vou até conversar com o Cícero sobre isso, quem sabe a gente faz! O filme está bem legalzinho. Eu gostei muito, eu gosto do resultado!

A estudante que estava participando, que foi a protagonista, está aqui na cidade ou voltou? (para a Comunidade)
Ela voltou, terminou ano passado e voltou. Ela teve a defesa do TCC na comunidade dela, em Aruanã. Tenho feito isso... meus orientandos de comunidades tradicionais, de povos originários, têm feito as defesas deles em suas comunidades. Então, na defesa da Loiwa, eu fiz isso. Eu levei a banca um dia antes para Aruanã e fizemos a defesa lá na escola indígena. Eu queria que a comunidade dela visse o que ela estava fazendo aqui. Eu acho que é importante fazer isso.

O TCC dela foi escrito em qual idioma?
Foi escrito na língua portuguesa, mas eu estou com um orientando que é Xerente, o Hesukamekwa, e ele já está no processo de escrita do TCC, e o dele eu quero que fique nas duas línguas, na língua dele e na Língua Portuguesa também. Eu quero, a partir de agora, que os estudantes que têm a Língua Portuguesa como segunda escrevam o trabalho deles na Língua materna deles também. Foi com essa intenção, na verdade, que eu entrei para o cinema. Eu fiz cinema no Instituto Federal de Goiás, já pensando nisso, em como trabalhar, porque eu tenho muito material de arquivo. Imagina, 20 anos trabalhando com povos indígenas. Então, eu entrei para aprender a trabalhar com esse material, de como transformar isso em algum trabalho audiovisual mesmo, que possa circular e que eu possa estar trabalhando com esses estudantes.

Muito legal! Os estudantes do Areião (UAECSA) ficam muito distantes e não ficam sabendo dessas coisas.
Pois é. O que é muito importante, e faz parte de toda a faculdade. Existe vida aqui na UAECH, e muita vida! Estamos com bastante estudantes indígenas aqui, principalmente na Licenciatura em Educação do Campo. Nós temos três povos indígenas: Xerente, Karaja e Xavante. O nosso curso já conta com 33% dos estudantes, sendo indígenas. Essa é uma quantidade muito alta.

No dia do filme, você fez uma pequena homenagem a algumas estudantes. Quer deixar uma mensagem para elas?
Sim. Quando a Loiwa entrou, ela não entrou sozinha no curso. Foram quatro mulheres indígenas que entraram. A Loiwa; a irmã dela, Inahadiru; a Cristina Malauiru Karaja e a Indiana. Só que das quatro, somente a Loiwa terminou. Na pandemia, a Inahadiru não se adaptou ao ensino remoto e desistiu. E a Cristina faleceu de COVID-19, infelizmente. Ela era muito atuante no curso. Minha ideia original, era fazer esse documentário com essas estudantes indígenas. Mas temos ainda, o depoimento da Inarandiru no filme, quando ela era nossa estudante. A gente tem garantido a entrada desses estudantes. A permanência já é outra história, é uma luta constante, porque eles passam por muitas dificuldades aqui na cidade. Além do racismo estrutural e do preconceito. É uma cidade hostil com esses estudantes. Então, eu tenho relato de vários episódios em que eles são acuados e sofrem aqui (...). Isso é um problema sério. Não só na cidade, mesmo dentro da Universidade. A Universidade também é uma instituição que reproduz, como a sociedade reproduz as práticas discriminatórias com esses estudantes.

Então, é uma luta constante.

 

A Universidade Federal de Goiás, Câmpus Goiás, parabeniza o Professor Hélio por essa grande conquista, pela sua representatividade na Universidade e por sua luta diária!

 

Arquivo pessoal do professor 

 

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