CAJAZINHO

O cajazinho agora é Patrimônio.

Por Amanda Peregrine. Em 24/07/24 16:47. Atualizada em 26/07/24 14:11.

Projeto de Pesquisa realizado pelo curso de Administração na UFG - Câmpus Goiás leva Projeto de Lei que foi aprovado na Assembleia Legislativa da cidade, transformando o cajazinho em Patrimônio Cultural, Ambiental e Ecológico do município de Goiás!

Coordenado pelo professor Juliano Avelar Moura, o projeto de pesquisa Bioeconomia de Componentes Florestais do Cerrado apresentou uma proposta de Projeto de Lei à Câmara dos Vereadores de Goiás, que aprovou o tombamento do cajazinho como Patrimônio Cultural, Ambiental e Ecológico do município de Goiás.

Entrevistamos o professor Juliano para sabermos um pouco mais sobre como essa história aconteceu, vem conferir!

Amanda: Bom dia, professor!

Juliano: Bom dia, Amanda!

Amanda: A gente vai apresentar um pouco do seu projeto para o Câmpus. Você pode se apresentar e contar um pouco sobre como foi?

Juliano: Tá certo. Obrigado, Amanda, por ter vindo aqui, você e o Keslley. Bem-vindos à nossa humilde sala. Eu sou professor Juliano, do curso de Administração. Estou aqui no Câmpus desde 2012. E de lá para cá, a gente tem conhecido um pouco mais a cidade, né? Se adentrado mais nas questões locais, questões da cidade, questões da região também. Eu sou do curso de Administração e, de uma forma geral, prioritariamente eu trabalho na grande área da Administração da Produção, que envolve várias coisas, né? Desde produção de grandes empresas, pequenas empresas, questões ligadas ao extrativismo local, à cultura da produção local e assim por diante. É uma grande área do conhecimento.
Dentro dessa grande área de conhecimento também está a gestão ambiental, que eu acho que é o que tem uma relação com o tema que a gente vai tratar aqui hoje.

Amanda: E como que foi esse processo entre o estudo de Gestão Ambiental e o início do projeto de pesquisa que gerou o Projeto de Lei?

Juliano: No curso de administração, nós temos um Projeto de Pesquisa que é chamado Bioeconomia de Componentes Florestais do Cerrado, sobre o cerrado do Vale do Rio Vermelho, na verdade. Então, dentro desse projeto de Bioeconomia, a gente trata alguns componentes florestais. Por exemplo o pequi, que já é bem tradicional na região; a mangaba; o cajuzinho e outros componentes que participam desse cerrado. Com relação ao projeto específico que a gente vai falar, tratamos um componente que não é nativo do cerrado, mas, é muito presente na região e, sobretudo, aqui na cidade de Goiás. O cajazinho é um componente florestal que, diferentemente dos demais, que ocorrem muito no meio do cerrado mesmo, ele vem ocupar a cidade. A paisagem da cidade de Goiás, que já é uma cidade que tem um atrativo especial com relação ao componente arquitetônico.

Amanda: Então, o que motivou a escolha do cajazinho?

Juliano: Na medida que a gente foi pesquisando esses componentes florestais, nós observamos que esse em específico, o cajazinho, é muito presente no perímetro urbano de Goiás. Na cidade é muito comum falarmos do suco de cajazinho, do picolé de cajazinho, inclusive nos grandes meios de comunicação, todo mundo trata. Sobretudo, o picolé de cajazinho da cidade de Goiás, que já é muito famoso, juntamente com a própria história da antiga capital. Então, vejam, a gente sabe que ela apresenta um produto importante, que é a polpa, o fruto dessa árvore, que está presente nos hotéis, nas pousadas, no comércio da cidade, porém, fala-se muito pouco da planta e da repercussão dessa planta no entorno.
Por incrível que pareça, não especificamente aqui em Goiás, mas nos parece que as pessoas odeiam as árvores. Elas cortam as árvores com uma facilidade muito grande. Por pouca coisa, uma árvore que às vezes tem 20 anos que está em um determinado local, é cortada sem dó alguma. Então, nós começamos a questionar essas questões em torno dessa planta. Veja, tem o produto, mas e a planta? A partir dessa interrogação, nós fomos para a Câmara fazer um levantamento desse cenário da ocupação dessa planta no município. Nós identificamos, a partir de um censo florestal, que o que acontece com esse componente florestal, não acontece em nenhuma outra cidade do Brasil. Estou falando que o componente não fica na periferia, mas no núcleo da cidade, compondo a paisagem. A partir do censo, identificamos 172 árvores adultas produzindo. De onde vem a matéria prima para a produção dos picolés, dos sucos, das geleias que existem na cidade? Desses 172 indivíduos, que são coletados, sobretudo, por moradores locais.
Então, veja, tem uma parte de moradores que compõem a renda familiar coletando esse fruto e vendendo no comércio local e, tem uma outra parte da população que culturalmente tem essa polpa congelada, extraída das mesmas árvores, porque faz parte da alimentação local, da cultura local. Veja, a partir desse cenário, identificamos que existe uma quantidade significativa de indivíduos, que têm uma produção que possibilita a formação de renda cerca de R$200.000,00 (duzentos mil reais) por ano, só com a coleta do cajazinho. Sem contar a agregação ou cadeia de valor. Isso tem uma importância, se tem uma importância, ela (a planta) não pode ser cortada à rebelia, de qualquer forma.

Amanda: A partir dessa situação, o que vocês começaram a observar?

Juliano: É pregado a questão da polpa, a questão dos produtos, mas e quanto à sustentabilidade da árvore? O que vai garantir a persistência da oferta desses produtos aí na cidade no longo prazo? Então, a partir desse questionamento, eu estive em contato com a Assembleia Legislativa da cidade, especificamente com o presidente da Câmara na ocasião e, apresentei para ele o cenário e a problemática em torno da planta do cajazinho, e sinalizamos para ele por meio desse estudo, que foi feito pela UFG - Câmpus Goiás, com a participação do IFG – Câmpus Goiás, a necessidade do Poder Público estabelecer critérios para a proteção dessa planta. Para garantir o picolé de cajazinho, a polpa de cajazinho, os derivados.
Foi acatado em plenitude pela Câmara Municipal, a Câmara levou isso para a plenária, e foram feitas duas votações, ambas aprovadas por unanimidade, e agora é um projeto de lei. Ou seja, o cajazinho passa a ser Patrimônio Cultural, Ambiental e Ecológico do município de Goiás. A gente considera isso uma conquista, que surge a partir de uma pesquisa da Universidade e do IFG, mas, que tem a participação da população como um todo.

Amanda: Obrigada, professor, pela entrevista, pelo projeto, pela explicação. Parabéns pelo projeto. É uma iniciativa muito interessante de mostrar para a comunidade como está acontecendo essa extensão da produção científica, da produção universitária em contato com a comunidade e o trabalho, principalmente, aqui para a comunidade vilaboense.

Juliano: Eu que agradeço, sobretudo, em nome da Coordenação do curso de Administração, em nome da Graduação de Administração de uma forma geral, da Universidade Federal de Goiás. Eu estou falando da Universidade porque nós estamos abertos à população externa. E a população externa que quiser saber um pouco mais sobre a proposta, pode procurar a gente aqui. Se acessarem também à Câmara dos Vereadores, junto àquele ambiente, vai ter informações sobre o projeto.
Estamos à disposição. Muito obrigado!

 

O Câmpus Goiás, mais uma vez, parabeniza o Projeto e todos os seus participantes pela importante iniciativa no fomento da pesquisa e extensão universitárias! Essa é mais uma conquista valorosa para a Universidade, que pretende continuar conquistando ainda mais!

 

Confira aqui o vídeo da entrevista completa: Entrevista Completa

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