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LEdoC da UFG Regional Goiás pretende habilitar educadores para o campo

Por weberson dias. Em 29/02/16 18:55.

A ideia é oferecer um curso de graduação específico para formar educadores para docência nos anos finais do ensino fundamental e médio nas escolas rurais goianas.

O curso de Licenciatura em Educação do Campo: Ciências da Natureza (LEdoC) foi criado na UFG Regional Goiás em 2013 com a proposta de habilitar educadores ajustados às necessidades reais do campo para ministrar três disciplinas: Química, Física e Biologia, nos anos finais dos Ensinos Fundamental e Médio nas escolas goianas localizadas no campo. Fundamentado na modalidade da Pedagogia da Alternância, o LEdoC da Cidade de Goiás tornou-se um dos primeiros do país, norteado em alcançar os grupos sociais marginalizados, mudar a realidade e contribuir na permanência dessas populações no campo, com qualidade de vida.

 

Hoje o curso conta com uma média de 130 alunos, oriundos de vestibular específico, que oferta a cada semestre 60 vagas. Três técnicas administrativas trabalham no curso, uma delas é doutora. Atualmente, há 12 professores, sendo seis mestres, três doutores, dois doutorandos e um pós-doutor, que lutam para formar profissionais engajados na luta para o empoderamento, reconhecimento, valorização e fortalecimento a identidade dos sujeitos que trabalham e/ou residem no campo, que compreende 23 comunidades. A Licenciatura em Educação do Campo faz parte do Programa de Apoio à Formação Superior em Educação do Campo, uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC).

 

Enfrentamento

Conforme informações da professora Alessandra Castro, também coordenadora do LedoC, o curso é resultado da luta dos movimentos sociais, em especial o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “O curso oportuniza que o trabalhador do campo, antes engajado no processo de luta pela terra, tenha direito à Educação, através do acesso à universidade, espaço antes reservado às elites”, destacou a professora Alessandra Castro, também coordenadora do LedoC.

Alessandra

 

Ainda segundo ela, antes as pessoas que viviam no e do campo tinham uma educação mais urbanizada, pois os professores eram da cidade, com formação voltada à realidade dos centros urbanos. “Muitos desses profissionais passaram a atuar no campo, dada a carência, e portanto não conheciam o contexto. Por este motivo, os movimentos defendiam uma educação que levasse em consideração as especificidades dos sujeitos do campo e que tivesse a finalidade de qualificar os professores que trabalho no campo”, lembra.

 

De acordo com a professora Alessandra, em 2006 e 2009 surgem os quatro primeiros cursos de Licenciatura em Educação do Campo no Brasil. “Como a experiência deu certo e Goiás atendia ao edital do Ministério da Educação, como a existência de 23 assentamentos, presença marcante dos movimentos sociais do campo nas décadas de 80 e 90 é muito forte e a experiência da primeira turma de Direito Agrário, e o projeto elaborado fosse contemplado. O nosso curso faz parte da 3a experiência no Brasil, podemos dizer que é pioneiro no país”, comentou ela.

 

 

Habilidades

Biólogo, mestre, doutor e pós-doutorando em Educação e Cultura, o professor Welson Santos, recentemente empossado, assegura que a Educação do Campo difere da Educação Urbana. “Enquanto no ensino regular e urbano a Educação está voltada para o Enem e vestibulares, a Educação do Campo focaliza a qualidade de vida do sujeito do campo”, destacou Santos.

Welson

Ainda de acordo com o professor, o perfil profissional do educador deve estar alinhado à política do LEdoC. “O profissional precisa ter o compromisso voltado para as demandas do sujeito que está no campo, intervindo no processo de qualificação, ajuste e melhoramento da qualidade de vida desses sujeitos, a partir do fortalecimento das identidades”, disse. Segundo o professor, essas são marcas registradas do LedoC em todo o país. “Vemos a Educação como processo que tem o desafio de fazer com que o sujeito seja parte integrante e participante do todo”, alertou.

 

Tempo Comunidade

Engenheira agrônoma, com mestrado e doutorado em Agronomia e ampla experiência em assistência técnica de assentamentos, a professora Danielle Beltrão é a coordenadora do Tempo Comunidade (TC). Segundo ela, a experiência compartilhada fortalece o relacionamento entre universidade e comunidades e proporciona qualificação para ambos. “O Tempo Comunidade tem o caráter de possibilitar que a universidade entenda a sociedade e leve suas contribuições às comunidades, como uma espécie de contrapartida”, explicou a professora Danielle.

 

A professora explicou que no primeiro ano do curso, os estudantes conhecem a comunidade. No segundo, fazem um diagnóstico (evasão, papel da escola, problemas enfrentados, etc) e elaboram um projeto para executar na escola. Nos dois últimos anos, iniciam os estágios e os acadêmicos passam a atuar ministrando aulas na escola da comunidade. “Os trabalhos dos alunos torna-se uma demanda dos diagnósticos e projetos realizados na comunidade”, adiantou ela.

Danielle

De acordo com a coordenadora, há uma grande expectativa e envolvimento de gestores e alunos nas escolas atendidas. Portanto, segundo ela, há um critério na escolha das escolas. “Levamos em conta a relação do aluno com a comunidade e se a escola atende estudantes do campo”, afirmou. Ainda segundo ela, muitos professores se formam e sentem-se despreparados no início da atuação profissional. “Com o Tempo Comunidade isso não existe. No período de alternância, os estudantes associam a teoria à prática e as refletem nas comunidades, propiciando conhecimento prévio da realidade”, assegurou ela.

 

 

A professora lembrou que o curso colaborou com a regulamentação da Lei Estadual da Educação do Campo. Apesar disso, para ela a maior conquista do curso é permitir que a universidade se insira nas comunidades e qualifique os alunos, que já atuavam na Educação e não tinham uma graduação. Além de estar inserido nas comunidades da Cidade de Goiás, o TC estende-se também até Aruanã, 170 km da Regional Goiás.

 

Acadêmico

O acadêmico 4o período do LedoC, Higor de Oliveira, entrou para o curso na intenção de ministrar a disciplina de Física. Atualmente, ele desenvolve uma pesquisa que pretende traçar o perfil dos professores de ciências em quatro escolas do campo no município. “O curso é motivador e instigador, para quem pretende seguir a linha da licenciatura”, aconselhou aos interessados o estudante Higor, assegurando que está ansioso para o estágio em sala de aula.

Higor

Contribuições

Ainda segundo o professor Welson, para este ano ele projeta o lançamento de um livro sobre a realidade da região, desenvolver materiais de laboratório com recursos alternativos e espaços não formais e trabalhar em parceria com outras áreas para valorização da agricultura familiar. “Espero que os professores aceitem o desafio de formação educacional verdadeira e de qualidade, compromissos da universidade pública, que fujam do mesmismo e da educação massificante. Que consigam aceitar o desafio de formar profissionais que vá para o campo e auxiliem na luta pela mudança de realidade do povo que mora nessas comunidades, auxiliando-os nesta caminhada”, destacou ele.

 

Quando questionada sobre 2016, a professora Danielle Beltrão informou que idealiza projetos de extensão, estruturação do Tempo Comunidade, mais sistematização das ações e produção de artigos, além de corpo docente maior e mais qualificado. “Isso cria uma condição para pensarmos em projetos maiores, como pós-graduação e instrumentalização de pesquisa”, disse .

 

A professora e coordenadora do curso, Alessandra Castro, tem como projeções para os próximos anos estruturar o tripé ensino, pesquisa e extensão, bem como contribuir para que os alunos egressos acessem mestrados e conquistem vagas no mercado de trabalho. “Atualmente tivemos três projetos aprovados no Programa Bolsas de Licenciatura, o Prolicen, Pibic e vários outros”, arrematou.

 

Nos olhos da professora Alessandra, é só orgulho de estar na UFG. Cheguei em 2012, como professora substituta do Serviço Social e a partir de então tenho feito parte dessa instituição, a qual tenho muito orgulho. Nosso curso é histórico e sempre tem contado com o apoio da universidade, contribuindo para sua consolidação. Só temos a agradecer”, finalizou a professora Alessandra Castro.

 

Fonte: Weberson Dias/ ASCOM da UFG Regional Goiás

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