
Regional Goiás destaca trabalho desenvolvido na UAE de Ciências Humanas
Entre os destaques estão a qualificação docente, produção intelectual e os cursos ofertados à comunidade acadêmica.
O Colégio Santana, que do final do século XIX até fevereiro de 2014 foi o responsável pela educação básica de parte dos vilaboenses abriga hoje a Unidade Acadêmica Especial de Ciências Humanas (UAECH), cuja criação foi impulsionada pelo crescimento da Regional Goiás da UFG, na Cidade de Goiás. Esse espaço contabiliza mais de 240 estudantes, que são trabalhadores e pessoas de comunidades populares, distribuídos em três cursos superiores: Filosofia (Bacharelado), Filosofia (Licenciatura) e Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC), abertos a toda a população goiana, manhã, tarde e noite. Além da graduação, a UAECH conta com a especialização lato sensu em Educação de Jovens e Adultos (EJA), que oportunizou gratuitamente 40 vagas na pós-graduação.
Dado seu crescimento em população, uma importante conquista é a unidade recebeu reforços na equipe de vigilância e limpeza do prédio, com expectativas de crescimento do quadro. “A ampliação da equipe é sinal que a Unidade está crescendo”, observou a professora Geovanna de Lourdes Alves Ramos, chefe da UAECH. Outro ponto positivo é que a Unidade compreende também a Comissão de Avaliação Docente (CAD) e espaços para os Centros Acadêmicos. “Precisamos de outros entidades na unidade, fortalecer o diálogo e manter o vínculo com a Unidade de Ciências Sociais Aplicadas”, ressaltou ainda a docente.
Qualificação
A Unidade conta com uma média de 30 professores efetivos, mais da metade destes são doutores ou estão concluindo o doutorado. Nos cursos de Filosofia, atualmente, de efetivos são cinco doutores, sete doutorandos, uma aluna especial de doutorado, e ainda três professores substitutos, todos mestres. O LEdoC também conta com professores qualificados. De efetivos, o curso conta com um pós-doutor, quatro doutoras e três doutorandos. De substitutos são uma doutoranda e uma especialista. “Um dos professores conclui o doutorado em maio e outro em agosto. Um total de 11 doutores na Filosofia e sete no LEdoC, em pouco tempo, vai facilitar a vinda de novos cursos de graduação, pós-graduação e Mestrados”, comemorou a professora Geovanna Ramos. Ainda conforme a chefe da UAECH o quadro docente está sempre se qualificando. “Muitos dos mestres que atuam na unidade já fazem doutorado. Alguns deles, estão cursando inclusive no exterior, como o caso de uma professora que uma está em Paris, na França, e outra em Salamanca, na Espanha”, lembrou Ramos.
A qualificação dos docentes ampliam a visão de mundo dos estudantes e os incentiva para a pesquisa, tornando-os sujeitos críticos e humanos. “Os docentes aprendem e trocam experiências a partir das vivências dos alunos, o que é fundamental para a formação de todos”, disse a chefe da unidade. Além dos professores, é importante ressaltar que o quadro dos servidores técnico-administrativos da UAECH também são capacitados. Uma das técnicas possui doutorado, e outra é Secretária Executiva na estrutura administrativa da UFG.
Produção intelectual
Em mais de dois anos, uma marca do crescimento intelectual da unidade foi o desenvolvimento de dezenas de projetos de pequisa e extensão, publicação de artigos em periódicos científicos, jornais, livros e capítulos de livros, tornando-se referência em produção intelectual. Somente em 2015, cerca de 35 trabalhos ganharam o mundo.
Importantes parcerias também foram firmadas pela Unidade. Um exemplo dessas parcerias foi firmada pelo LEdoC com o curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal do Pará (UFPA), campus de Abaetetuba, no ano passado, no intuito de criar projetos em conjunto. As portas se abriram em dezembro de 2015, quando a diretora da UAECH, professora Geovanna Ramos, participou da conferência de abertura do II Seminário Nacional da Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Na oportunidade, a professora explicou as práticas e experiências do curso goiano, perfil dos alunos, formação do corpo docente, chegada do LEdoC à UFG e relatou a vivência nos assentamentos. A professora é membro do Conselho Editorial e recentemente escreveu o prefácio do 1o livro daquele curso. A previsão é que, ainda este semestre, Geovanna retorne à Amazônia para visitar quilombolas, ribeirinhos e sertanejos amazônicos, a fim de fortalecer os laços com a instituição paraense.
Outro dado que merece ser citado é que o LEdoC conta com três bolsistas do Programa Bolsas de Licenciatura (PROLICEN), para desenvolver atividades de pesquisa, extensão e intervenção escolar. Os projetos foram aprovados este ano e representam uma conquista para professores e estudantes da UAECH. “O Edital é muito concorrido e para uma unidade que começou há pouco tempo, conquistar três bolsas na primeira tentativa é muito positivo para a formação dos estudantes e revelante no que diz respeito ao contato deles com a realidade das escolas”, destacou ela, acrescentando que na UAECH são desenvolvidas também pesquisas pelo Programa Institucional de Voluntários de Iniciação Científica (Pivic) e Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid). Pelo Pibid, alguns alunos viajaram até mesmo para fora do país. O curso de Filosofia, por exemplo, enviou estudantes para apresentação de trabalhos no Chile e na Argentina.
A UAECH oferta ainda um curso de extensão universitária em Língua Brasileira de Sinais (Libras), ministrado pela professora Geórgia Dantas, com 60 inscritos.
Parcerias
A chefia da UAECH destacou também a parceira mantida com o Instituto Federal de Goiás (IFG), para cessão de salas de aula, auditórios e quadra da unidade. “Por outro lado, existe a troca de experiências e saberes com os alunos do IFG e a parceria também se estendeu ao curso de Arquitetura e Urbanismo, da Unidade Acadêmica Especial de Ciências Sociais Aplicadas (UAECSA)”, explicou ela.
Outro ganho é a relação estabelecida entre a Universidade e as comunidades da Região, tornando-se uma das instituições de maior relevância no contexto regional, nacional e internacional. Prova disso, é que muitos estudantes da UAECH conhecem também realidades de outros Estados. Foi o que aconteceu com um grupo de quatro estudantes e cinco professores do LEdoC, bem como um técnico administrativo da UAECH, que seguiu, no final de 2015, para Laranjeiras do Sul (PR) a fim de participar do 5º Seminário das Licenciaturas em Educação do Campo, na Universidade Federal da Fronteira Sul, uma universidade instalada em território fruto da luta pela terra e pela Reforma Agrária: o Assentamento 8 de Junho. “Foi uma experiência gratificante para todos nós. Participamos de oficinas exclusiva para docentes”, disse ela, ressaltando que após o encontro percebeu-se a necessidade de estruturação do Tempo Comunidade e a revisão do Projeto Pedagógico de Curso (PPC)”.
Outro destaque da UAECH é que, anualmente, são realizados eventos voltados para estudantes e pesquisadores de Filosofia e Educação do Campo. “O antigo Colégio hoje é uma universidade pública, relevante por ser um prédio tombado pelo Patrimônio Histórico da Humanidade, e faz parte do conjunto arquitetônico da cidade. Hoje, a universidade tem um cuidado especial com sua história”, destacou a professora Geovanna. “Daqui a alguns anos, este prédio não será suficiente, porque vamos crescer muito. Todos esses pontos positivos são apenas nosso começo”, finalizou a chefe da UAECH.
Servidora Eunice
Eunice Ferreira está lotada na secretaria do LEdoC na UAECH desde fevereiro de 2015. A servidora efetiva de 58 anos é natural de Fortaleza (CE), onde prestou 12 anos de serviço na Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal do Ceará. Por questões pessoais, Eunice chegou para a Cidade de Goiás em julho de 2007, como colaboradora técnica e contabiliza, em 2016, onze anos de UFG, atuando nas secretarias dos cursos de Direito, Serviço Social, Filosofia e no Núcleo de Prática Jurídica. Vale uma ressalva para os agradecimentos: “Tenho saudades das pessoas quando cheguei aqui, que me ajudaram muito, como os professores Cleuton [Freitas] e José do Carmo [Siqueira]. Nunca terei como pagar também o ex-reitor, Edward [Madureira]. Apesar de não me conhecer, investiu em mim. Ele foi muito importante para minha vinda à Cidade de Goiás”, recorda-se ela, emocionada.
A gestora de Recursos Humanos tem duas especializações – Patrimônio e Meio Ambiente e Libras-, e 30 anos de serviço público, mas o sonho do Mestrado a persegue bem antes de 2014, quando já tinha disponibilidade para aposentar. “Era pra eu ter aposentado, mas eu tenho o sonho e quero realizar esse sonho. Eu quero fazer meu Mestrado. Eu sempre brinco que só saio daqui compulsoriamente”. Ela pensa também, após ser mestre, em seguir para o Doutorado. “A idade não me impede de nada, pois temos que buscar conhecimento e eu quero sempre estudar”, adiantou.
Graças a UFG, Eunice conheceu vários lugares, como João Pessoa (PB), Cuiabá (MT), Florianópolis (SC) e Pelotas (RS). “Eu ainda tenho que viajar muito com os alunos”, brincou. Dona Eunice, como é carinhosamente tratada pela comunidade acadêmica, diz que a secretaria do LEdoC é o melhor lugar para ela. “Eu sempre digo que estou no céu e muito feliz. Aqui fui bem acolhida pelos professores, todos me respeitam e estou sempre em contato com os alunos. A gente tem que ter paciência para orientá-los. Eu aprendo com eles, eles comigo. É uma troca de conhecimento. Eu tenho muito a agradecer à professora Meire”, disse. Ao se definir, Eunice se declara positiva, sincera, prestativa, responsável e solidária. “Pois o trabalho só tem um bom andamento, quando se trabalha em equipe”, finalizou.
Pensando a Filosofia
Marjorry Peres tem 19 anos, vem diariamente de Goiânia para a Cidade de Goiás e faz o 2o período de Licenciatura em Filosofia na UAECH. Ela conta que a cidade, os colegas, os professores e as disciplinas a fizeram, logo no primeiro período, se apaixonar pelo curso. “A Marjorry de agora é totalmente diferente daquela que começou o curso. Era desinteressada com as questões político-sociais. Os professores são muito bons, sempre com cuidado, carinho e proximidade pegam firme conosco. Hoje me interesso totalmente, fui amadurecendo e meu senso crítico é mais apurado. Eu entendo que o conhecimento aprendido vai além do que a Filosofia ensina, mas nos prepara para a vida, nós levamos os ensinamentos para a vida”. Segundo Marjorry, o nível de dificuldade em estudar Filosofia a deixa motivada, empolgada a não desistir e, futuramente, seguir carreira acadêmica. “Pretendo fazer Mestrado e Doutorado na área, voltar para a Cidade de Goiás e ministrar aulas aqui, nesta Unidade”, arrematou, cheia de metas.
Experiências do Assentamento
Aluno do 4o período do LEdoC, Seu Argimiro Camargo mora no Assentamento São Carlos, com esposa e um casal de filhos. Há 16 anos trabalha como coordenador de turno na Escola Municipal Angélica de Lima, a cerca de 30 km da Cidade de Goiás. Para ele, estudar no LEdoC, renova os sonhos de ser professor no campo e fazer uma pós-graduação para contribuir com a comunidade. “Antes eu estudava em uma faculdade particular numa cidade vizinha e tudo era muito difícil. Seis meses depois, a UFG abriu o LEdoC e eu e minha esposa fizemos o vestibular e passamos. Para estudarmos, tive que vender algumas vacas e comprei uma moto para estudar manhã e noite”, lembra Camargo. “Para mim, o que é o Tempo Comunidade é muito importante para aplicação da teoria que vemos em sala de aula”, concluiu.
Fonte: Weberson Dias/ ASCOM da UFG Regional Goiás
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